A luta do povo do Egito foi uma luta de todos os povos. Vivemos intensamente, colados às televisões, de ouvidos atentos às rádios, procurando na Internet, lendo avidamente os jornais, “a torcer” pela combatividade de um povo, que não arredou pé da praça Tahrir no Cairo, até à demissão de Mubarak.
A queda do ditador fez recordar o nosso 25 de Abril de 1974.
A explosão de alegria atingiu todos nós. Estava cumprida a primeira etapa de uma luta de libertação de um povo. Luta que é parte da luta de todos nós por um mundo melhor, mais justo, socialmente falando. Contudo, para muitos, logo o pensamento no futuro nos trouxe algumas preocupações. E agora como vai ser? Que força continuará a ter o povo egípcio para não se deixar enganar pelas ajudas “interessadas” de alguns poderosos?
Voltei a recordar no nosso 25 de Abril de 1974. Passados trinta e sete anos, imagino que precisávamos de um novo 25 de Abril. O percurso que deixámos que fosse feito, fez-nos retroceder, fez-nos perder grande parte das conquistas e das esperanças que se confirmavam nos dias seguintes do primeiro ano de Portugal liberto da ditadura fascista.
Também no Egito o percurso está por definir. Os riscos são grandes. Os governos dos EUA e da União Europeia estão atentos e activos no seu papel de defesa dos interesses hegemónicos e económicos do grande capital. Eles tiveram, à última hora, que apoiar o povo para poderem controlar o processo. Os EUA e a NATO estão activos e, à distância, a cercar o Egito e a Tunísia, e a posicionar-se com os seus meios navais no Mediterrâneo Oriental. Certamente, esperam aproveitar oportunidades para ajudar as contra-revoluções, com os seus representantes e intermediários, como fizeram em Portugal.
Iniciaram-se as negociações. Qual é a sua natureza? Mubarak saiu, foi uma vitória, mas os seus aliados ficaram. Quem é que representa o povo nessas negociações? Uma nova casta?
Esses negociadores poderão ser a contra-revolução que manterá em vigor os interesses que já existiam e eram executados por Mubarak. Lembremo-nos que os “ditadores não ditam, obedecem”.
Nós que sofremos os efeitos dos desvios que a nossa revolução de Abril tomou, temos razões para estar preocupados. Estaremos atentos às manobras de “adormecimento” do povo.
Esta "fase de transição" poderá ser usada para ganhar tempo, para desgastar as “vontades” e levar ao baixar de braços, como em Portugal, e preservar as políticas económicas neoliberais usando os mesmos pretextos das dívidas externas, para submeter o povo.
São perguntas e dúvidas que só o povo pode responder.
Os poderosos, são poderosos. Mas os "povos unidos" mais poderosos são!
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