quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Canais Rocha - Macartismo e antiterrorismo


Nasceu em Torres Novas, em 17 de Janeiro de 1930.
Começou a trabalhar imediatamente após a instrução primária como marceneiro, na empresa de Alberto Sepodes, e carpinteiro de moldes, nas metalúrgicas Lourenço & Irmãos e Costa Nery.
Mais tarde faria o curso dos liceus, a licenciatura em História e o mestrado de História Contemporânea.
Desde muito novo ligou-se aos movimentos sociais, políticos e associativos de Torres Novas.
Em 1952 foi preso pela primeira vez pela polícia política e, depois de libertado, retomou a luta política e sindical em Torres Novas.
Funda as estruturas sindicais dos trabalhadores metalúrgicos, concelhias e distritais, integra direcções locais e regionais do PCP e adere às comissões de apoio às de Arlindo Vicente e Humberto Delgado.
Ao nível associativo, esteve na fundação do Núcleo Campista “Raiar da Aurora” e do Cine-Clube de Torres Novas.
Seguiram-se anos de clandestinidade com sua mulher Rosalina, também ela uma lutadora.
Em 1968 foi de novo preso pela PIDE, tendo sido condenado a 5 anos de prisão. Crê-se que foi um dos presos políticos com maior período de tempo sujeito à tortura do sono, somente interrompida pelo desnorte provocado pela queda da cadeira de Salazar.

Libertado da cadeia de Peniche em 1973, emprega-se no Sindicato dos Jornalistas e no Sindicato dos Electricistas e integra o grupo fundador da Intersindical, de que foi o primeiro coordenador-geral.
Em Maio de 1974 é eleito delegado dos trabalhadores portugueses à 59ª Conferência Internacional do Trabalho (OTI), realizada em Genebra.
Foi fundador e dirigente da Associação Amigos de Torres Novas em Lisboa; em 1996 funda a ARPE, de que foi presidente. Em 1998, funda a Federação dos Reformados do Ribatejo, de que é presidente e, em 2002, a União das Colectividades e Associações de Torres Novas, de que também é presidente. Participou ainda na fundação AGIR e da Associação Casa Memorial Humberto Delegado.
Publicou dezenas de artigos sobre a história do movimento operário e sindical em vários jornais e revistas e alguns livros sobre sindicalismo e a história do movimento operário, o último dos quais editado pelo Município de Torres Novas em 2009.
Recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Município de Torres Novas em 2003.

Francisco Canais Rocha é, aos 80 anos, exemplo de perseverança e de consciência, de convicção e dignidade pessoal. Foi, para muitos, um pedagogo da ciência que suporta as revoluções.
É um líder por excelência desde os tempos de miúdo e um organizador por excelência.

Maratonista da conversa, dono de uma notável capacidade mnemónica e um apaixonado pelo cinema.
Che Guevara e Alexandre Herculano são dois dos seus ícones imemoriais e símbolos das suas grandes paixões: a História e a luta social.

Também por ele os labirintos do passado foram convertidos em campos férteis de liberdade.

Macartismo e antiterrorismo - Duas faces da mesma moeda


Francisco Canais Rocha
Historiador

Os EUA não tem autoridade jurídica ou moral para condenar  Saddam e atacar o Iraque. Juridicamente só o poderiam
fazer com mandato da ONU.  Quanto à autoridade moral, a situação ainda é mais grave...

A década de 50 do século XX passou à História como a época  da «guerra fria». Dividido em dois blocos, o Mundo vivia
aterrado com o receio  de um conflito nuclear, alimentado pela Guerra da Coreia (1950-1953). Nesse  período, os EUA
foram varridos por uma onda de anticomunismo, o macartismo, que perseguia tudo e todos.  Beneficiando de largo
apoio dos católicos americanos, em especial do Cardeal  Spellman, o Macartismo era a  expressão da «guerra fria» na
política interna dos EUA e visava combater todos  os que se opunham à política belicista e aventureira da América.

 Quem se opusesse ao macartismo não era bom americano, era comunista!

 Cinquenta anos depois, num Mundo unipolar, com a chegada da  direita ao poder, encabeçada por George W. Bush, a
expressão ideológica da  política externa dos EUA é o antiterrorismo, em particular o da multinacional  do terrorismo
Al'Qaeda, criada pelos próprios EUA na sua cruzada contra o  comunismo. Hoje, quem não condenar o terrorismo é
contra a América. Mas não  todo o terrorismo. O terrorismo de Estado praticado por Israel sobre o povo  palestiniano não
deve ser condenado. Tal como o macartismo apoiado pelos católicos americanos, hoje são os  protestantes
fundamentalistas que apoiam a política americana contra o Iraque. 

O macartismo, expressão da «Guerra Fria»

Entre os anos de 1947 e 1955 os EUA foram varridos por uma  onda de anticomunismo que se transformou em
verdadeira histeria colectiva. Esse  onda atingiu o seu apogeu nos anos 1950-1954, período em que o senador Joseph 
McCarthy, à frente da poderosa Comissão de Actividades Antiamericanas (criada  em 1938 para combater os filonazis,
mas que se mantivera inactiva durante nove  anos!), desencadeou uma verdadeira «caça às bruxas» digna da Inquisição.

 Quando terminou a II Guerra Mundial (1939-1945), as classes  dominantes dos EUA alimentaram a ilusão do
nascimento de um «século americano»,  a crença de que o Mundo era como que uma ostra que os EUA podiam comer.
A  expressão desta política é traduzida pela declaração do secretário de Estado  John Foster Dulles, em 1952, de que os
EUA «não têm amigos, só têm interesses».  Em consequência de tal política, a economia foi colocada em pé de guerra
 permanente. O militarismo invade a vida política, a «guerra fria» passa para  primeiro plano, e todos os assuntos
internos são, duma maneira ou doutra,  subordinados à política de domínio mundial.

 Para «conter» o Movimento Sindical foi aprovada em 1947 à  lei Taft-Hartley, que visava diminuir o poder dos sindicatos.
Segundo essa lei,  os dirigentes sindicais teriam de jurar em tribunal que não eram comunistas.  Caso não o fizessem, o
sindicato não seria reconhecido. São proibidas as greves  de solidariedade. Durante uma greve o tribunal podia
suspendê-la até noventa  dias. É neste contexto que surge o macartismo.

 O macartismo penetrou em toda a estrutura social e ideol6gica da sociedade americana. Os macartistas pareciam ver
um comunista atrás de cada árvore ou poste de iluminação  pública. No entanto, o anticomunismo do senador
McCarthy não passava de um  slogan a empregar na luta contra todos os grupos sociais, tendências e  instituições
progressistas, intelectuais liberais, isto é, contra todos os que,  de uma maneira ou de outra, se opunham à «guerra fria»,
ao poder avassalador do  «complexo militar-industrial», defendendo reformas que favorecessem o mundo do  trabalho,
das artes, da política de negociação com todos os povos do Mundo.

FSTIEP
http://fiequimetal.pt/fstiep Powered by Joomla! Generated: 16 January, 2011, 21:49 Entre as páginas mais odiosas do macartismo figura a condenação à morte dos esposos Rosemberg,  acusados de
espionagem. Era a primeira vez que tal acontecia nos EUA em tempos  de Paz. Mas também a perseguição aos
membros progressistas e liberais das  faculdades e universidades; a perseguição aos artistas de Hollywood, como Charlie
 Chaplin; a destruição de livros, como na Idade Média.

 Durante o macartismo, as doutrinas constitucionais que abarcavam liberdades individuais sofreram  modificações
substanciais. O recurso à «Quinta Emenda» (ninguém pode ser  obrigado, numa investigação criminal, a depor contra si
próprio), era agora  considerado criminoso pelos macartistas, que chegaram mesmo a falar de  «comunistas da Quinta
Emenda» aos que recusavam responder às perguntas das  comissões investigadoras.

 Em 1953, depois de violentos combates, de avanços e recuos  de ambos os lados, de ameaças de emprego da bomba
atómica. a guerra da Coreia  chega ao fim, ficando tudo na mesma, isto é, as duas Coreias separadas como  ainda hoje
se mantêm. Mas a guerra tinha mostrado que os EUA não eram invencíveis,  sobretudo depois de terem perdido o
monopólio das armas nucleares. É neste  contexto que os presidentes dos quatro grandes (América, URSS, Inglaterra e 
França) se reúnem em Genebra.

 A Conferencia de Genebra contribuiu para aliviar a tensão  mundial e criar um clima de paz, abrindo caminho ao que
ficou conhecido como o  «desanuviamento». Encerrava-se um importante capítulo da história  contemporânea, no qual o
mundo se encontrou por mais de uma vez à beira de uma  guerra de incalculáveis proporções. Mas as forças amantes da
Paz fizeram gorar  todas as tentativas belicistas, e a política de coexistência pacífica impôs-se  nas relações Leste-Oeste e
entre países com sistemas sociais e políticos  diferentes.

O Antiterrorismo e o Controlo do Petróleo

A partir dos anos setenta do século XX a linha prioritária  da política externa norte-americana era a campanha ideológica
em torno dos  chamados direitos humanos. Depois da implosão do bloco soviético e da queda da  URSS, os EUA
tornaram-se na única superpotência. Até então, os EUA procuraram  que as suas acções de domínio mundial fossem
cobertas pelas Nações Unidas.  Agora já não precisam dessa cobertura «legal» e passam a agir de acordo com as 
declarações de JF Dulles, isto é, de acordo com os seus interesses. E à cabeça  desses interesses encontra-se o petróleo, o
chamado ouro negro.

 Apoiado ideologicamente nos fundamentalistas protestantes  Bush, diaboliza os «inimigos» dos EUA e inventa o «eixo
do Mal», constituído  pelo Iraque, o Irão, a Coreia do Norte, etc. Ora, foi precisamente este Iraque  de Saddam que os
presidentes americanos Ronald Reagan e Bush (pai)armaram até  aos dentes na sua guerra com o Irão. Foram eles
que forneceram a Saddam os  produtos químicos para sua guerra bacteriológica, como o antraz. Nessa altura,  Saddam
Hussein era um valioso aliado da causa da «Paz» e da «Liberdade».

 Os tempos mudaram e os interesses americanos também. Na sua  luta pela hegemonia e controlo do petróleo mundial,
os EUA sabem que o Iraque  tem as segundas maiores reservas desse produto e é o segundo maior produtor de 
petróleo e de gás natural. Aliás, a instabilidade política e social que se  instalou na Venezuela após a chegada ao poder
de Hugo Chavez faz parte do mesmo  processo, pois a Venezuela é o quinto maior produtor de petróleo.

Os EUA não tem autoridade jurídica ou moral para  condenar Saddam e atacar o Iraque. Juridicamente só o poderiam
fazer com  mandato da ONU. Quanto à autoridade moral, a situação ainda é mais grave. Um  governo que recusa assinar
o «Protocolo de Quioto», sobre o aquecimento da  Terra e o meio ambiente; um governo que recusa reconhecer o
Tribunal Penal  Internacional (TPI) para julgar os crimes contra a Humanidade; um governo que  recusa assinar o
acordo visando fornecer aos países dá Terceiro Mundo (a braços  com epidemias como a sida) medicamentos mais
baratos, não pode deixar de  merecer a condenação de todos os que amam a Paz.

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